Novembro foi marcado por três importantes eventos para o setor de segurança eletrônica

Nas últimas semanas, tive a oportunidade de vivenciar três importantes eventos que, juntos, formam um retrato bastante claro do momento que atravessamos no setor de segurança eletrônica: a participação como palestrante em um evento estratégico da FIESP, a Missão Internacional em Milão e, finalmente, o Congresso ABESE 2025 histórico, com auditório lotado e debates intensos sobre o futuro da segurança no Brasil. Esses três ambientes, internacional, industrial e associativo, revelam não apenas tendências tecnológicas e regulatórias, mas principalmente a urgência de integrar inteligência, responsabilidade e visão estratégica para que possamos avançar como setor e como sociedade.

A reflexão começou ainda na FIESP, onde participei como palestrante em um encontro dedicado a discutir as novas tendências da segurança de produto e rastreabilidade diante de um cenário regulatório mais rigoroso e de um mercado que exige inovação contínua. O painel de abertura, conduzido por Orlando Morando, trouxe dados robustos sobre o Smart Sampa: um sistema que já ultrapassa 40 mil câmeras, integra redes públicas e privadas e opera com reconhecimento facial capaz de processar 10 milhões de faces por dia, alcançando 92% de confiabilidade em apenas oito segundos. Uma média de nove prisões diárias demonstra de forma inequívoca que a tecnologia, quando bem aplicada, salva vidas e aumenta a eficácia operacional sem elevar a letalidade. No painel sobre o Estatuto da Segurança, debatemos as implicações do novo marco regulatório e o equilíbrio necessário entre inovação, compliance e responsabilidade corporativa.

Durante a Missão ABESE em Milão, pudemos observar modelos internacionais de excelência em gestão integrada, monitoramento e governança em segurança. A reunião com a Fiera Milano reforçou a importância da parceria entre SICUREZZA e EXPOSEC, ampliando a cooperação entre os dois principais polos de inovação em segurança da Europa e da América Latina. Na visita à Sicuritalia, conhecemos em detalhes a central de monitoramento responsável pela segurança de um dos maiores complexos de feiras do continente, referência em protocolos e padrões operacionais. No Aeroporto de Malpensa, vimos o uso avançado de detecção em 3D e automação de inspeção, que eliminam a necessidade de retirar laptops das mochilas e permitem o transporte de líquidos acima de 100 ml, um exemplo prático de como tecnologia e experiência do usuário podem caminhar juntas. As visitas à Polícia Municipal e à Defesa Civil de Milão evidenciaram um sistema de segurança baseado em prevenção, integração entre forças e inteligência aplicada a grandes eventos, como os Jogos Olímpicos de Inverno Milano Cortina 2026.

No Congresso ABESE 2025, realizado no dia 27 de novembro, em São Paulo, tivemos auditório lotado. Na abertura, celebramos os 30 anos da ABESE e reforçamos a relevância do setor que emprega mais de 5 milhões de pessoas e cresce, em média, 10% ao ano. Em um ano marcado pela regulamentação do Estatuto da Segurança Privada, pela expansão das portarias remotas e pela adoção crescente de soluções de inteligência artificial. No painel de abertura, Segurança Colaborativa, Orlando Morando reforçou a importância de não retrocedermos por motivações ideológicas que prejudiquem tecnologias essenciais, como a biometria. Davi Carreiro apresentou o avanço do Rio de Janeiro com o uso de inteligência, dados e cerco eletrônico, que já contribuiu para mais de três mil investigações. O keynote speaker do Congresso, Igor Rocha, economista e pesquisador, trouxe uma análise estratégica sobre o cenário econômico brasileiro e os impactos que os desafios regulatórios terão sobre o ambiente de negócios nos próximos anos. Em sua fala, destacou como inovação, competitividade e segurança caminham de forma integrada em um país que se torna cada vez mais digital, exigindo do setor público e privado uma visão madura sobre tecnologia, produtividade e investimentos. Segundo ele, entender essas transformações é fundamental para que as empresas de segurança eletrônica se posicionem de maneira sólida diante das mudanças tributárias, da evolução tecnológica e das novas demandas sociais, aproveitando as oportunidades que surgem em um mercado em rápida expansão.

O painel sobre o Estatuto da Segurança Privada trouxe informações detalhadas sobre o texto da Lei 14.967/2025 e suas implicações para o setor. Representantes da Polícia Federal e especialistas explicaram que o novo marco regulatório estabelece três pilares para a segurança privada: segurança ostensiva, escolas de formação e segurança eletrônica, com capital social específico para cada atividade. Entre os avanços, destacaram-se a renovação de autorização de funcionamento a cada cinco anos, a dispensa de autorização para empresas que apenas comercializam, instalam e realizam manutenção, e a definição dos profissionais que atuarão como operadores, supervisores e técnicos externos de monitoramento e rastreamento. Da Polícia Federal estiveram presentes a Delegada Dra Denise Tenório e o Dr. Cairo Costa Duarte, Coordenador-Geral de Controle de Serviços e Produtos da Polícia Federal, que destacaram que a participação da ABESE nas discussões técnicas e sua entrada na CCASP fortalecem o processo de transição e garantem que o setor terá voz ativa na construção da regulamentação final. Já o assessor jurídico da ABESE, Dr. Lázaro Sá, afirmou que o Estatuto representa uma oportunidade histórica de profissionalização e valorização das empresas, que agora terão mais clareza regulatória e condições de crescimento.

O painel Reforma Tributária e vendas para o Governo, trouxe análises fundamentais. A advogada Camila Pisani enfatizou que o ambiente de compras públicas continua extremamente vantajoso, oferecendo contratos estáveis e competitivos para empresas de segurança. A tributarista Patrícia Roccato reforçou que 2026 será o ano decisivo para que as empresas mapeiem seus créditos e despesas e realizem o planejamento tributário necessário para a transição ao IVA.

O terceiro bloco do primeiro painel sobre Portaria Remota também abordou a interferência do poder público na iniciativa privada a partir do caso da portaria remota. A ação direta de Inconstitucionalidade em andamento no STF foi mencionada como ponto de atenção, enquanto Marjorie Albuquerque, CEO do SíndicoNet, apresentou em primeira mão números do levantamento com mais de três mil condomínios mostrando que 68% adotaram portaria remota pela redução de custos e mais de 70% estão satisfeitos com o modelo. Alex Garcia, síndico profissional, reforçou as vantagens na contratação de portaria remota e citou exemplos positivos que, segundo ele, a tecnologia valorizou os empreendimentos e trouxe mais segurança e eficiência operacional. Omar Anauate, Presidente da AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo) destacou a importância da união entre entidades como a ABESE como a para fortalecer o diálogo com o poder público e evitar leis que atrasem a modernização dos condomínios.

O segundo painel, “Revolução 5.0: IA, Dados e Cibersegurança Redefinindo a Segurança Eletrônica”, trouxe especialistas que apresentaram tendências e desafios de um cenário cada vez mais digitalizado. Marcos Lima, executivo de tecnologia do Santander, destacou o crescimento das tentativas de intrusão digital e a necessidade de fortalecer estratégias de defesa cibernética. Juliana Amaral, da AWS, explicou como a inteligência artificial e o uso de dados estruturados podem transformar processos de segurança e criar novos modelos de atuação. Thiago Paulino Rodrigues, CEO da Links Field, abordou o papel do ecossistema IoT e da conectividade na ampliação das soluções inteligentes. Já Carlos Henrique Paes de Barros apresentou casos e oportunidades de aplicação da tecnologia no agronegócio, setor que demanda monitoramento robusto e análise de dados em tempo real.

Ao observar essa sequência de eventos fica claro que estamos conectando diferentes dimensões da segurança eletrônica. O Brasil vive uma janela histórica de oportunidade. Temos tecnologia avançando, marcos regulatórios se consolidando, cidades integrando sistemas e empresas buscando profissionalização.

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